(porque não pode ser só sapatos e afins)
A primeira menstruação de uma adolescente é um momento que é vivido pelas mães com grande euforia e emoção. A passagem de menina a adolescente/mulher é sempre vista como um bom prenúncio no que diz respeito ao seu futuro como progenitora. Os primeiros meses são sempre um pouco difíceis pois a adaptação a todo um mundo novo nem sempre é fácil. Há que conhecer os produtos disponíveis no mercado para saber a qual deles se adapta melhor. Lidar com todas as alterações hormonais e emocionais, que um “corpo novo” comporta. Um sem fim de mudanças que podem e devem ser levadas com muita calma por toda a família.
A minha aventura com a menstruação começou, se bem me lembro, aos 12/13 anos. Lembro-me que foi numa terça-feira, o dia reservado à aula de educação física, e que depois de ter chegado da escola, numa ida à casa de banho, gritei pela minha mãe. Para ela foi uma alegria ver a sua menina crescer e abraçar mais uma etapa da vida. Para mim foi o início do pesadelo.
Primeiro fomos à médica de família para as devidas formalidades. Os avisos e cuidados a ter com o meu corpo passaram a ser uma prioridade para mim.
Mas todos os meses eram um desafio. Ora vinha ora não vinha. Ora vinha 5 a 8 dias, ora ficava quase duas semanas. Era uma verdadeira loucura. Sempre, mas sempre muito bem acompanhada de muitas dores. Dores essas que se centravam em toda a zona abdominal. De tanto me queixar e de tanto me verem em sofrimento, os meus pais decidiram levar-me ao médico. Mas desta vez a um especialista. Aos 16 anos fui pela primeira vez a um ginecologista: “Tenha calma isso é perfeitamente normal. Se tomar a pílula vai ver que melhora.” E assim foi. Mas não, não melhorei. A este médico seguiram-se mais 5. Até chegar ao 6º , o meu “salvador” mas já lá iremos.
Sempre que ia a um novo médico repetia uma série de exames. Ecografias e análises. Uma revisão clínica, que passava muitas vezes por uma breve e sumária descrição do processo da minha mãe: “Você é como a sua mãe. Também ela teve dores, não é verdade? Há mulheres que têm mais dores do que outras. O mais provável é que venha a ter alguma dificuldade em engravidar. Mas depois de ter filhos vai ver que tudo passa.”
Basicamente o que os médicos me diziam era, Aguenta e não chora. Que ser mulher é assim.
Com o passar do tempo novas e muito felizes etapas na minha vida foram surgindo. O terminar do secundário, a entrada para a universidade e para o mundo laboral. Sem falar claro está, no namoro e casamento. Infelizmente, muito infelizmente estas etapas eram muitas vezes vividas com uma grande carga de sofrimento. Que eu fazia questão de não revelar, a não ser a quem me fosse próximo. Por vezes, em conversas de raparigas e quando o assunto era abordado referia que tinha dores. Ouvia todas as outras opiniões e experiências e lamentava para mim o sofrimento atroz em que vivia. Como poderia eu falar e descrever uma coisa que não se via? Como poderia eu descrever a dor constante e o desconforto porque passava? Como tal parecia ser uma missão impossível, deixei de me preocupar em tentar explicar-me e resignei-me à minha condição.
Os analgésicos tornaram-se os meus melhores amigos. Mas não se pense que me tornei uma viciada! Calma lá. Muito pelo contrário, o medo que sentia desse caminho era tanto que muitas das vezes tentava aguentar as dores. Lembro-me que em dias mais complicados tinha de faltar às aulas da parte da manhã para poder trabalhar durante a parte da tarde. Aprendi a priorizar a minha vida.
A coisa parecia estar controlada. Até que chega um dia muito sonhado e desejado, o meu casamento. A pessoa com quem queria passar o resto da minha vida estava bem a par de toda a situação e sofria na pele os meus dias maus. Ao fim de pouco tempo de estarmos casados decidimos começar a tentar engravidar. Sempre desejamos ter uma família, e curiosamente cedo decidimos que iríamos adotar.
Após algum tempo de tentativa e sem resultados, fomos ao médico. Desta vez, fomos a uma médica. Esta tinha-nos sido recomendada por uma série de amigos e familiares. Fiz uma quantidade de exames exorbitante! No dia da consulta, na qual saberia os resultados diz-me de uma forma muito direta e sem rodeios: Você tem endometriose. E deve ser grande e grave. Mas vá para casa tome esta pílula e vamos ver o que dá.
Hum? Como é que é? Tenho o quê? Deixa cair a bomba atómica e foge a correr?!
Há 10 anos atrás a informação sobre esta doença era nula. Pelo que ainda durante a consulta, entre o choque e a tentativa de controlo da situação, esforcei-me para lhe fazer algumas perguntas.
Mas decidi que não podia baixar os braços e aceitar, tinha de saber mais sobre o que se passava comigo.
Foi-me recomendado novo médico, o 5º. E lá fomos nós cheios de exames para a primeira consulta. Este foi muito prestável e simpático, falei-lhe de todo o meu processo até ali, da minha história clínica. E no fim disse que a última médica me tinha dito que tinha endometriose. Ao que ele me responde: Só se pode confirmar essa doença de uma maneira. Fazendo uma laparoscopia.
E assim foi. Num quente mês de agosto fiz a minha primeira cirurgia de diagnóstico.
O que mais temia confirmou-se: tinha endometriose. Esta encontrava-se alojada em dois órgãos; a bexiga e os intestinos. Estes são órgãos muito sensíveis e delicados. Na bexiga, o médico conseguiu retirar os focos de endometrio, agora nos intestinos não era possível mexer. O efeito da endometriose nos intestinos, no meu caso, afeta a sua capacidade de funcionamento normal. Ou seja, tenho uma série de intolerâncias e alergias alimentares. Que ao comer certos alimentos fazem com que este fique irritado. Mas sobre esta odisseia falarei num outro post.