Caderno Afegão, Alexandra Lucas Coelho
Já andava de olho nele à algum tempo. Há muito tempo mesmo. Só não o comprei quando saio porque achei um pouco caro. Lamento ter-me feito esperar tanto tempo. O que andava a perder. Agora tento a cada linha recuperar o tempo perdido. Alexandra Lucas Coelho (ALC) tem o dom da palavra, escreve (e perdoem-me todos os clichés),com uma voz dentro de si que nos faz viajar através dos seus olhos. Essa voz faz com que o corpo, os olhos, os sentidos de ALC sejam os nossos. Não é fácil escrever sobre um lugar, um país, uma família, uma pessoa dizimada pela guerra. As feridas da guerra não passam só com o tempo. Passam com a vontade e determinação humana em criar um país melhor. É no meio de toda a desordem natural de um pós-guerra, que se consegue erguer hotéis, restaurantes, escolas, fazer pão e beber chá. E nós sentimos tudo isto porque lemos ALC. Este é um livro cheio de emoções e sentidos. A sua forma de escrever é magnifica. Sentimos um apelo constante ao nosso olfato quando descreve as ruas de Cabul. Sentimos a dor no coração dos familiares, que fazem viagens intermináveis nas piores das condições para um breve encontro com os seus entes queridos através de uma vídeo chamada para uma prisão. Sentimos o calor e o sol na pele de quem trabalha em campos flores (papoilas) como se a pele fosse a nossa. Sentimos o orgulho num militar em ajudar uma criança com a cabeça partido, nas piores das condições, mesmo que para isso não possa abraçar a sua família durante vários meses.
É certo que ainda há muito a fazer no Afeganistão. Há escolas e hospitais por construir, estradas por fazer, saneamento básico por implementar, a lista é extensa mas ler o Caderno Afegão e ter a certeza de que há esperança para a humanidade.
As fotografias desta viagem aqui